3 de setembro de 2010

ATO 1 - MÚSICA

Ela tem seus cd's,
que não ouve mais.
As músicas ficam guardadas num pen-drive,
junto com o que resta dela.

As músicas são sempre as mesmas.
Ela tem preguiça do novo.
Mas tédio do dia-a-dia!

ATO 2 - LIVROS

Ela tem seus livros velhos e mofados,
que não lê mais.
Os textos ficam no nootebook,
junto com a sua alma.

Os textos não são mais os mesmos.
Ela tem medo do passado.
Lê livros de auto-ajuda!

ATO 3 - OS BATONS

Ela tem suas bebidas, seus batons,
que já não usa mais.
A vida fica guardada na prateleira do freezer,
junto com seu corpo.

A carne ainda é a mesma.
Ela tem medo do futuro!
Não sabe mais chorar...

FECHAM-SE AS CORTINAS!

Enigma do dia

Tenho pressa de chegar do lado de lá do texto.
Sei que, minhas pernas - curtas e pesadas -
Percorrem a página devagar, devagarinho...

Escreve torto, meu pé pequeno,
na linha frágil da página
que ainda não foi virada.

Com o pé, pois não há mãos suficientemente fortes
Para cravar em letras "xilografadas"
o que ainda não foi dito
Por mim...

Quanto mais confuso, o negro da página,
Mais perto me sinto da claridade dos pensamentos.

Os meus sim.
Os seus não!

Porque escrever com o pé,
Nas páginas de um texto inventado,
Não faz sentido!

As palavras simplesmente saem.
Vomito-as com ânsia e pressa!

Não falo pra ti,
Não falo pra ninguém,
o que tudo isso quer dizer...
Somente crio enigmas!

1 de junho de 2010

Achando culpados

Estive pensando, relembrando e passeando (como quem caminha pra lugar algum) pelos labirintos do meu passado.
E nessas divagações complexas e um tanto desconexas, cheguei desconfiada (nunca chego a lugar algum), nessa inconclusa teoria de que “estudar as palavras” me afasta delas...
E sim, sim... É uma teoria (apesar, de inconclusa), de bastante relevo e causa, até de discussões mais aprofundadas, mas... Como explicar?...
É que...
Lembro-me bem (como andar de bicicleta), que anteriormente ao curso de Letras, gostava mais das palavras (como ainda gosto), mas para ainda além dessas daí...
Gostava das minhas palavras, dos meus dizeres, dos meus manuscritos, dos meus rabiscos, dos meus emaranhados de textos digitados e publicados (ou não).
E lembro-me que não era tão raro (como agora), ter vontade de escrever sobre nada (e tudo), sobre o ser (e o não ser) de estar aqui (ou acolá).
Lembro-me bem...
Hoje tenho preguiça dos meus textos, vergonha do que são, pena dessa auto-piedade piegas e “chula” de escritor decadente...

Irrito-me facilmente com esse marcador do Word, que pisca sem parar... Por que cobra-me tanto palavras imediatas?... “Até tu, Brutus?”.

Tenho vontade de protestar, ser ridícula: terminar o texto por aqui, pronto, sem ponto, sem final...mas meu orgulho de criança mimada, de “pseudo-tudo-clichê”, não me deixa.
Afinal, preciso publicá-lo, acariciar meu ego literário!!!
E se agora, você, leitor desalmado (sim, cruel), chegou à conclusão que nada tem a ver minha falta de inspiração e talento com o “estudo das palavras”.
Por favor, cale-se! Não atreva-se!
Não sabe?...
Há sempre de haver um culpado...

3 de abril de 2010

Nada

Fique bem e quieto
Ande certo e sempre
No compasso do abraço
(do traço e do pulso).

Corte e coma
Colha e solte
(o fundo do rosto,
o raso do riso).

Pense e sinta
Despeje e acenda
(o fogo,
fúria,
desconexo,
descontextualizado).

De dentro.

6 de março de 2010

Essa tal de essência que às vezes não presta pra nada...
E não temo dizer que raramente me orgulho dessa percepção idiota para coisas que no final, me farão mal.
Você, alma masculina, talvez não entenda do que falo. Não entenda esse talento nato, barato, para me sensibilizar com coisas banais. Banais, sim! Mas que só se mostram assim no final do gole, amargo e ferino.
E eu que “me penso” tão sábia... Tão conhecedora dos "sim’s" e "não’s", dos amores e desamores da vida. Porque, como mulher, me vem sempre essa essência chata, incômoda, de me fazer crer que tudo (gestos, trejeitos e controvérsias) é dotado de poesia e delicadeza.
Que nada!
Um olhar pode ser simplesmente um olhar! E nada mais!
Pra que poetizar? Colocar reticências?...Encher de glamour inventado um ato comum?
E não me venham românticos de plantão, com seus caderninhos cor de rosa, com seus “ais” e ressalvas.
Hoje, quero a realidade mais que qualquer coisa.
Quero o gosto masculino de enxergar as coisas pelos olhos e só.
O coração que se apague e deixe de enxergar por umas horas, que seja.
Porque, às vezes, sentir demais cansa...