7 de setembro de 2008

Pra não entender...

Esse Vazio vasto, salpicado de pedaços de ninguém, enche de sombra o branco dos sem-lugar. É um espaço imóvel, porém não-encontrável, esconde-se em si mesmo e faz-se presente somente nas almas desses sem-lugar.
- Aqueles que Dele mais fogem, são seus alvos favoritos. Tortura-os com seu sem-sentido e os faz mais inquietos, isolados, indesejáveis. Plenos senhores do vazio, sem coroa, sem trono, sem querer.
E assim Ele faz-se cada vez mais... e mais... Vazio, imensamente vazio.
Secretária eletrônica,
Caixa rápido,
Caixa postal.
Normal?
Auto atendimento,
Lava jato,
Internet,
Self service
Vídeo game...televisão...solidão...
Tic-tac/ Toc-toc...
Alguém aí?...
Quero um amigo que afague meus cabelos quando eu quiser chorar por coisa alguma.
Que essa coisa alguma tenha para ele algum significado, pois me faz chorar.
Se choro, mesmo não sabendo o porquê, quero carinhos e carisma, papo leve, papo pro ar, mas alguma coisa.
Alguma coisa que me faça esquecer dessa coisa alguma, que não é nada...
Mas me faz chorar...
Começa com uma nuvem
fina e quase transparente
branca, pouco convincente
o amor que transborda finalmente.

Começa tímido, embaraçado
louco, desmedido, atrapalhado...
Não se sabe inteiro
Ou só metade. Pobre coitado!

Tropeça em seus próprios suspiros,
Não sabe se ama:
Aquilo que tem ou o que convém.

Termina com uma fumaça
grossa e espessa
preta, feia, sem presteza
O amor que trasnborda de tristeza...

16 de junho de 2008

Tenho o mundo nas mãos
Na palma pequena
Da alma serena...

Do tamanho do chão
Esse mundo cão
Mundo cão!!!

Sofro o sopro do vento
Me chove um cortante fél
Um sereno, soturno, ao relento
Mundo vadio, sádico, cruel?

Não. É. Não!
É o tamanho do mundo
Um vazio profundo
Apenas um mundo cão...
Por detrás do olhar se escondem cores:
amarelas, azuis, violetas.
Um olhar multicolorido que transpaça
alma, retina, gestos e objetos...
Pra ser olhar arco-íris,
pinta-se e faz-se aquarela.
Macha lápis, mancha tinta, vira tela.
"Descolorizando" é que fica iluminado.
É misturando tons que cria-se a visão
tonalizada, salpicada de pinceladas diversas.
Abra os olhos e absorva: vê?
amarelas, azuis, violetas...
E acontece que você assiste aquele filme que te deixa mais vulnerável ao sair da sala escura.
E se sente pequeno e solitário em meio àquela multidão de pessoas.
E ainda cai uma chuva fina e desce um frio triste...
A cama não fica quente o suficiente.
A casa pouco aconchegante.
A comida sem gosto.
O livro em branco.
A tela azul, sem imagem: inanimados...
E o choro engasga.
E nem se sabe o porquê!
E tudo por um filme.
E tudo por nada...
Ou é tudo?
E...
Ainda bem que nunca precisei me trancar no quarto para chorar por uma besteira;
Ainda bem que nunca fiquei tão "lisa" que tenha pedido empretado;
E nem tido ciúmes dos amigos;
E nem "xeretado" as coisas do namorado;
E nem ter entendido nada, mas fingido que entendi tudo;
E nem jogado papel na rua (como se não fosse da minha conta)...
E nunca ter sido injusta;
Nem orgulhosa...
Nunca tenha mentido.
Ainda bem que essa história de conto de fadas, de pinóquio, não existe...
Ainda bem.

8 de maio de 2008

Corte os pulsos e quebre os ossos
O fel que desce pela garganta e alcança o estômago
Caminhará até ser morte!
O sentimento doloroso, de parto amaldiçoado, de doença sem cura.
Caminha atento a todos os espasmos
Ri escandalosamente da angústia desmedida
Causa o choro com seus dentes escancarados.
Expulse em vômitos sucessivos, esse mal hospedeiro.
Engula em preces longas e fervorosas o exorcismo enfurecido dessa alma que te corta.
Alma?
Sim.
Esse fel que te sufoca.
Mate-a!
Minha poesia não tem eira nem beira
Vive vagando desleixada por aí
Não se importa se é Lá ou Mi
Vive perdida em sua própria melodia.
Cai e levanta-se em versos uníssonos, graves
Melancólicos... de um exaustivo ir e vir
Cansada de ser sem caminho .
Nada a prende, ninguém a enlaça
Traça sua própria sina
Faz-se de menina e
Mulher, moleca, louca...
Minha poesia dispensa a linearidade
Prefere o delírio, o sem-sentido, o insesato.
Cambaleia consigo mesma
Gatuna, serelepe, arteira,
Calúnia de palavras soltas.
Sem eira nem beira...

Academicismo

E me diz um amigo:
- A academia “emburrece” as pessoas!
E ficamos horas a fio fumando, tomando café e falando uns por cima dos discursos dos outros...
Fora essa uma ótima desculpa para iniciarmos um festival de frases filosóficas, divagações sem nexo; até chegarmos ao ponto de não nos lembrarmos mais qual o motivo da discussão.
Isso me fez pensar, no meio daquele pátio cheio de jovens mentes transbordando “coisa nenhuma”, em não se a Academia “emburrece” ou nos torna gênios, mas sim na faculdade que construímos fora dela, onde os professores são os próprios alunos, onde as amizades se tornam tão fortes que parecem que não terminarão nunca.
Mas se acabam ou não, no momento não interessa. A magnitude dos momentos (sejam eles os mais simples) é que importa.
E assim, concluímos, ainda que sejamos egoístas demais para admitir uns para os outros: ali se conhece pessoas para toda a vida, pessoas que ainda que não saibam, virão a contribuir para o quê ou quem você virá a ser no futuro.
E isso que vale...

9 de abril de 2008

Tempestade?!

Não é que o tempo esteja nublado.
Meu coração está nublado.
Guarda-chuvas da emoção?
Pra quê?
Não há barreiras que resistam à tempestade dos meus sentimentos;
Ainda que disfarçados... Perfuram o céu, as nuvens, cobrem a superfície do asfalto de minha alma: encharcada e lamacenta.
Tenho em minhas mãos o “sopro do vento”, mas não sei o que fazer com isso.
Pra que servem todas as abstrações?
Nunca sabemos o que fazer com elas. Pra quê haveria eu de saber?
Ao final é tudo chuva. Ao final tudo transborda. E afoga a alma e o resto...

23 de março de 2008

Acordo de um sonho que não me pertence e me embriago com minha própria lucidez.
Sacio minha fome de não sei o quê, contemplando aquilo que não existe.
Saio para o infinito e passeio pelo jardim do nada.
Ouço o silêncio e deito no vazio.
Exausta, retorno ao inabitável e aguardo com uma ansiedade letárgica o imprevisível...
Olhando agora daqui, daqui mesmo deste ponto de ônibus, justamente deste ângulo e não de outro, eu percebo essa grande continuidade que é a vida...
Esse eterno atravessar pistas, contínuo girar roletas, enfrentar filas, andar e sempre e mais e adiante.
Contentes bonequinhos, numa caixa de brinquedo gigante, manipulados por uma grande criança. "Ela" existe mesmo? Não sabemos. A caixa é alta, não dá pra olhar pra cima, as nuvens cobrem tudo.
Só sabemos que há uma pista. E ela precisa ser seguida, tem as pausas, os reboques e a reta final, todos sonhamos chegar vitoriosos nessa reta para no fim, nem sabermos o que encontraremos. Mas é assim mesmo, tinha me esquecido que essa caixa, chamada também vida: é de surpresas...

4 de fevereiro de 2008

Noi-dia

A noite beija o mar
E pinta o sol
De um negro suave e terrível.
Terrivelmente belo:o encontro do cansado dia
Com a preguiçosa noite.
E eles brincam, dançam e nem nos damos conta
Que riem e fazem graça com a gente...

Abraçados, enlaçados,
Juntos como que irmãos, às vezes confundimos um com o outro
e trocamos um pelo outro,
Noite ou dia,
Não sabemos o sentido ou o sem-sentido
dessa estranha relação, que sonhamos separados, porém unidos...

Tentamos imitar tamanha "deslumbrância"
Acende-se a lâmpada ao querer "dia"
Fecha-se a cortina ao querer "noite"
Não nos damos conta do quão tolos somos
Nesse eterno jogo de fantasias
Em pensar, meio que sem pensar, que
um dia poderemos, ainda que "falsamente",
tomar como nosso o que nunca pertenceu a ninguém,
Nem a eles mesmos...

3 de janeiro de 2008

Se eu pudesse, viveria em uma camarata em que pudesse transformar em máquina do tempo.
Converteria CD em VHS, PC em lápis e papel, Coca-cola em mel.
Transfomaria MP3, 4 ou 5 em livro, lixo em artesanto, brigas em teatro...
E seria assim: o rústico, o simples.
O utópico sem medo de ser utópico.
O mundo está seco, muito prático, muito plástico... Trágico!
Se eu pudesse, seria assim, pra todos.
Mas eu não posso.
Quanta utopia!
Quão utópico! E plástico...
A música rola solta
Eu me sinto solta
Soltos estão meus pensamentos
Só não sei o que fazer disso só.

A música está lenta e leve
E sendo assim levada, fico também leve
Estando assim sigo e sugo meus momentos
Só não sei o que fazer disso só.

Há música, há solidão.
Ah, música! Ah, solidão!
O que fazer disso só?

Com música,
Com solidão,
E só?
Só.

Tempos modernos: não do Chaplin; os meus...

Na rua aonde eu moro não tem barulho de bola
Não tem amarelinha
Não tem pique- "isso"
Pique-"aquilo"
Não tem ciranda,
Elástico,
Rouba-bandeira...
Na rua aonde eu moro não tem barulho humano,
Não tem...